quinta-feira, 26 de agosto de 2010

HISTORIADORES PORTUGUESES: ANTÓNIO SÉRGIO:VITORINO MAGALHÃES GODINHO: OLIVEIRA MARQUES:JOSÉ MATTOSO: FERNANDO ROSAS

ANTÓNIO SÉRGIO
António Sérgio

António Sérgio de Sousa 

(n.1883/09/03 – m.1969/01/24)
Foi dos pensadores mais marcantes do Portugal contemporâneo, com uma vasta obra que se estende da teoria do conhecimento, à filosofia política e à filosofia da educação, passando pela filosofia da história. Escritor, pensador e pedagogo português, nascido em Damão (1883/09/03), Índia, a sua vida foi dedicada à reforma educacional em Portugal. Filho de um almirante, em virtude de este ter sido Governador do Congo Português, passou a sua meninice em África, e só depois veio radicar-se em Lisboa (1893).

 Foi para a Escola Naval, mas deixou a Marinha pouco depois de publicar Notas sobre os sonetos e as tendências de Antero de Quental (1908). 
As suas actividades políticas cedo começaram a surgir, revelando-o um democrata convicto.
Autor assistemático e um dos mestres do polemismo português, permaneceu no entanto sempre fiel a uma via que rotulou de idealismo racionalista e crítico. 

Sobre as razões do polemismo, entendeu-o sobretudo como uma via de combate no panorama das ideias do seu tempo. 
Sob o ponto de vista dos conteúdos doutrinários, Sérgio encontrou a filosofia a partir de sua formação de engenheiro, ou seja, a partir da geometria analítica e da física matemática. 
Não era apenas de filosofia da ciência que se tratava, tratava-se fundamentalmente de uma filosofia com profundas implicações humanas e sociais, regendo o comportamento e a acção de cada um no todo social de que faz parte.
 Daí uma doutrina cooperativista a nível da economia; uma doutrina democrática a nível da organização política da sociedade; uma filosofia da educação e uma concepção da pedagogia que encara a criança e o jovem como seres activos e criadores; assim, finalmente, uma teoria da cultura e uma teoria da história que o lançou em polémicas célebres sobre os rumos de Portugal.
Defendeu que é no indivíduo, em cada indivíduo, que a unidade da consciência se manifesta: «caminhe-se para a liberdade através da liberdade»! 

Neste contexto formulou a sua doutrina sobre o socialismo cooperativista, surgindo-lhe o cooperativismo como a forma de organização social mais consentânea com a sua concepção do homem como ser activo e criador. 
Com a proclamação da República (1910/10/05), passou a trabalhar a favor da reforma da educação no nosso país. 
Assim, foi um dos fundadores do movimento denominado Renascença Portuguesa, fundamentalmente voltado para as questões educacionais. 
Criou e dirigiu também várias revistas e jornais que tratavam do assunto, como a revista Pela Grei (1918). 
Titular da pasta de Instrução Pública (1923), no ministério reformista de Álvaro de Castro. Com a ascensão de Salazar ao poder, foi obrigado a exilar-se em Paris., depois em Madrid, de onde regressou a Portugal depois de ter sido abrangido por uma amnistia.
Morreu em Lisboa a 24 de Janeiro de 1969.
Dos seus livros mais importantes destacam-se: Educação cívica (1915) e os oito volumes de Ensaios (1920-1958).

VITORINO MAGALHÃES GODINHO
VITORINO MAGALHÃES GODINHO
Nascido em Lisboa (1918), filho de Vitorino Henriques Godinho – oficial do Exército e político republicano – e de D. Maria José Vilhena Barbosa de Magalhães. Estudos secundários em Lisboa, Liceus de Gil Vicente e de Pedro Nunes, licenciatura em Ciências Historico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1940). Professor extraordinário da Faculdade de Letras de Lisboa (1941-1944), investigador do Centre National de la Recherche Scientifique (1947-1960), Doutor ès-Lettres pela Faculdade de Letras da Universidade de Paris (1959), professor catedrático do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (1960-1962), Doutor honoris causa e professor na Faculté des Lettres et Sciences Humaines da Universidade de Clermont-Ferrand (1970-1974), Ministro da Educação e Cultura (1974), professor catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, coordenador do departamento de Sociologia (1975-1988), Director da Biblioteca Nacional (1984). Prix d’Histoire Maritime da Académie de Marine (1970) e Prémio Balzan (1991), sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras e da Royal Academy (Londres). Dirigiu várias colecções, nomeadamente nas Edições Cosmos, e fundou e dirige a Revista de História Económica e Social (1979).
Tendo começado os seus estudos pela Filosofia (Razão e História – Introdução a um problema, 1940; Esboço sobre alguns problemas da Lógica, 1943) cedo passou a interessar-se pela História. E de imediato inicia pesquisas sobre a História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa. Duas são as linhas de investigação inicial: um minucioso trabalho erudito sobre as fontes (Documentos para a História da Expansão Portuguesa, 1943-1956) a partir de uma problemática muito ampla (A Expansão Quatrocentista portuguesa, 1944) e uma tentativa de reconstituição das culturas e civilizações antes da chegada dos portugueses (História económica e social da Expansão Portuguesa, 1947; O "Mediterrâneo saariano" e as caravanas do ouro – séculos XI ao século XVI, 1956). Só assim, na conjugação destas duas linhas de trabalho, se conseguirá proceder à construção da história portuguesa e do seu impacte no Mundo nos séculos XV e XVI. Tendo prosseguido os seus trabalhos na École Pratique des Hautes Études em Paris – junto de Lucien Febvre, Fernand Braudel e Ernest Labrousse –, aí apresenta Prix et monnaies au Portugal, 1750-1850 (1955) e L’économie de l’empire portugais – XVe- XVIe siècles (1966), obra esta que foi tese de doutoramento (editada em português, com acrescentos, em 1963-1971, Os descobrimentos e a economia mundial, com edição definitiva em 1983-1984). Pertence à grande escola de estudos históricos que se desenvolve em torno da revista Annales (Économies – Sociétés – Civilisations). Destaca-se pela resistência à ditadura (o que lhe valeu por duas vezes o afastamento da universidade portuguesa) e também pela sua intervenção cívica em democracia, de que resultaram várias publicações: O Socialismo e o futuro da Península (1970), Portugal. A Pátria bloqueada e a responsabilidade da cidadania (1985). Apresentou propostas originais para reforma do sistema educativo português: Um rumo para a educação (1974).
Deve-se-lhe a actualização e a renovação dos estudos de história da expansão portuguesa numa perspectiva mundial. Partindo das reflexões e investigações de Oliveira Martins, Jaime Cortesão e Duarte Leite consegue ir muito mais longe e construir explicações muito enriquecedoras. A economia dos descobrimentos henriquinos (1962) e Os descobrimentos e a economia mundial revelam essa largueza de preocupações, mostrando como se entrelaçam e conjugam aspectos vários das disciplinas das ciências sociais na investigação histórica. Também no domínio da História de Portugal, moderna e contemporânea, escreveu estudos fundamentais e promoveu investigações que refizeram muitas temáticas: A estrutura da antiga sociedade portuguesa (1971), Mito e mercadoria, utopia e prática de navegar, séculos XIII-XVIII (1990). Igualmente se lhe deve a indicação de novos temas e novos problemas para investigações e dissertações que dirigiu, em especial durante o seu magistério na Universidade Nova de Lisboa.
Das suas lições de rigor erudito, de alargamento metodológico e da problematização das fontes como objecto cultural, de ensaio de quantificação e de cruzamento com as diferentes ciências sociais, de fundamentação teórica e de aplicação de uma visão histórica aos diferentes domínios do saber, de cidadania activa resultou uma notável renovação dos estudos de história em Portugal. Como escreveu numa das suas primeiras obras, "não é possível analisar os problemas da realidade portuguesa contemporânea sem os inserir na trama da evolução do nosso país, quer dizer, sem estudar as condições de formação do mundo em que vivemos, a génese da nossa cultura, da nossa sociedade, da estrutura político-económica de Portugal". Levando longe a sua proposta de que a história deve ser pensada na dialéctica da globalidade e de que a história é uma forma de pensamento, fundamenta uma visão da contemporaneidade muito rica e estimulante.
A.H. OLIVEIRA MARQUES
A.H. OLIVEIRA MARQUES

Historiador e professor catedrático, de nome completo António Henrique Rodrigo de Oliveira Marques, nasceu em S. Pedro do Estoril, concelho de Cascais, a 23 de Agosto de 1933. Passou à imortalidade em Lisboa, a 23 de Janeiro de 2007, em consequência de complicações ocorridas no começo de uma operação ao coração.O seu corpo encontra-se depositado no jazigo da família Oliveira Marques, no cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
Frequentou os liceus Camões e Gil Vicente, de Lisboa.
Em 1956 licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, apresentando uma dissertação intitulada A Sociedade em Portugal nos séculos XII a XIV.
Depois de ter estagiado na Universidade de Würzburg (Alemanha) iniciou funções docentes em 1957, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se doutorou em História em 1960 (Junho), com a dissertação, Hansa e Portugal na Idade Média.
Em 1962 participou na greve académica, ao lado dos estudantes, o que esteve na base do seu afastamento da Universidade portuguesa.
Em 1965, partiu para os Estados Unidos da América, leccionando como professor associado e catedrático nas universidades de Auburn, Flórida, Columbia, Minnesota e Chicago, e percorrendo grande parte daquele país como conferencista.
Em 1970 regressou definitivamente a Portugal, embora só depois do 25 de Abril de 1974 se lhe voltassem a abrir as portas da Universidade portuguesa.
De Outubro de 1974 a Abril de 1976 foi Director da Biblioteca Nacional de Lisboa.
Em 1976 (Julho) tomou posse do lugar de professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, tendo sido Presidente da Comissão Instaladora da recém-criada Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da mesma Universidade (l977 a 1980) e presidente do Conselho Científico da mesma Faculdade, de 1981 a 1983 e de 1984 a 1986.
Foi Presidente do Ano Propedêutico no ano lectivo de 1977-78.
Em 1980 fundou o Centro de Estudos Históricos da UNL
Em 1997 recebeu o doutoramento honoris causa pela Universidade de La Trobe, Melbourne, Austrália.
Em 1998 foi condecorado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
O número total das suas obras de tomo ultrapassa 60 volumes. A colaboração, com artigos, em revistas, dicionário e enciclopédias ultrapassa o milhar. Proferiu numerosas conferências em universidades da Europa, Estados Unidos, Brasil e Argentina.
É hoje considerado um dos grandes especialistas em história da Idade Média portuguesa, como mostra a sua notável produção na área, onde se salientam, entre outras, as seguintes obras: Hansa e Portugal na Idade Média; Introdução História da Agricultura em Portugal; A Sociedade Medieval Portuguesa (também traduzida para inglês); Guia do Estudante de História Medieval Portuguesa; Ensaios de História Medieval Portuguesa; Novos Ensaios de História Medieval Portuguesa; Portugal na Crise dos séculos XIV e XV; O «Portugal» Islâmico; alguns com mais de uma edição; e colaboração abundante no Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel Serrão.

JOSÉ MATTOSO
JOSÉ MATTOSO
Historiador português, nasceu em 1933, em Leiria. 
Doutorado em História Medieval pela Universidade de Lovaina (Bélgica) e com agregação em História Medieval feita na Universidade Nova de Lisboa, tornou-se em 1996 director do Instituto dos Arquivos Nacionais (Torre do Tombo), cargo que deixou em Janeiro de 1998, depois de reorganizar os serviços respectivos. 
Foi presidente do Instituto Português de Arquivos (1988-1990) e vice-reitor da Universidade Nova de Lisboa.
Tem publicadas várias obras de investigação historiográfica, versando em particular a Idade Média, como A Nobreza Medieval Portuguesa - A Família e o Poder (1980, com edições posteriores revistas), Identificação de um País - Ensaio sobre as Origens de Portugal (1096-1325) (1985, com uma 2.a revista) e Fragmentos de uma Composição Medieval (1987). Entre 1992 e 1994 saiu uma História de Portugal elaborada sob a sua direcção.
Foi galardoado com o Prémio de História Medieval Alfredo Pimenta (1985), o Prémio de Ensaio Pen Club (1986), o Prémio Pessoa (1987) e o Prémio Böhus-Szögyény de Genealogia (1991). 
É Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada (1992).
FERNANDO ROSAS

Fernando José Mendes Rosas
Historiador português, nasceu em 1946, em Lisboa, tendo-se doutorado em História Económica e Social Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. 
É, desde 1996, professor agregado de História Portuguesa Contemporânea na mesma universidade. 
Oriundo de uma família de tradições republicanas, ele próprio um cidadão publicamente empenhado na defesa de ideias de justiça e igualdade social, o seu interesse enquanto investigador voltou-se para a História do Estado Novo. 
É hoje unanimemente considerado um dos maiores especialistas portugueses neste período histórico, sendo consultor da Fundação Mário Soares e de várias estações de televisão e rádio. 
É ainda director da revista História e presidente do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, onde coordena várias iniciativas científicas no âmbito da cooperação deste instituto com diversas instituições. 
De salientar na sua vasta produção: "As Primeiras Eleições Legislativas sob o Estado Novo", "O Salazarismo e a Aliança Luso-Britânica", "Salazar e o Salazarismo" e "Armindo Monteiro e Oliveira Salazar - correspondência política, 1926-1955".

Sem comentários:

Enviar um comentário