quinta-feira, 26 de agosto de 2010

ESCOLA DOS ANNALES: GEORGE DUBY

George Duby
Georges Duby
Foi um historiador francês,
 especialista na Idade Média

(out. 1919 - dez. 1996)
"O objeto da pesquisa histórica hoje é compreender as verdadeiras relações entre o que é material e o que pertence à categoria da carne e do espírito."
Um dos mais importantes historiadores franceses deste século morreu neste mês de dezembro, de câncer. Medievalista e um dos grandes pensadores da chamada Nova História, George Duby nos lega uma extensa obra sobre a sociedade feudal européia, repleta de humanismo e de paixão.Desde cedo, Duby orientou-se para os estudos da Idade Média e da sociedade feudal na Europa, sofrendo profundas influências de pensadores como Michelet e Marx e de outros dos quais foi contemporâneo ou pôde conviver. Era partidário do método micheletiano que fundia lucidez e paixão. Como muitos destes, a exemplo de Lucian Febvre, dedicou-se, no início, à Geografia, mas acabou concentrando-se no ofício da História, muito em conseqüência do trabalho realizado com seu mestre, Jean Demian. Primeiramente, seus estudos históricos se voltaram para o campo da economia e do comércio nas sociedades da Idade Média, no que sofreu influências de Henri Pirenne e Marc Bloch, de quem preferiu tornar-se ávido leitor.Sua cultura histórica passou também por Henri-Irénée Marrou que o ensinou o método da exposição clara, mas também o fez ler Spengler e Friedman. Mas sua cultura humanística foi ampliada também pelo que assistiu durante os tumultuados anos 30 e 40: a Frente Popular, a Guerra de Espanha, a Ocupação Nazista e o Exército Vermelho em sua caminhada durante a Segunda Grande Guerra. Algumas destas experiências o aproximaram do marxismo. Serviu-se da obra de Marx para estudar a economia medieval, o que considerou "uma projeção arbitrária (que) revelou-se extremamente eficaz". Diante dos seus diversos interlocutores e, em especial, dos estudantes de todo o mundo, dizia não ser materialista, mas reconhecia com gosto sua "imensa dívida para com o marxismo", "prodigioso instrumento de análise". Foi amigo de Althusser, de quem também sofreu influência no que concerne às formulações sobre as superestruturas e, em especial, as ideologias e valores, utilizadas nos seus inúmeros estudos sobre a mentalidade medieval. Homem de prodigiosa formação humanística, estudou também Gramsci, Labriola e Lénin. Por ser avesso às sistematizações rigorosas no campo da teoria, o que foi uma tradição dos historiadores dos Annales, pode-se até constatar que o seu ecletismo não é apenas cultural, mas epistemológico. Entretanto, é necessário afirmar, com a mesma força, que o seu ecletismo não era desatento, mas oriundo da vontade salutar de não cair nas amarras em que muitos da sua geração soçobraram, para depois renegá-las. Atento aos acontecimentos contemporâneos, ao escrever as suas anotações autobiográficas, colocou-se contra as teses do fim da história e, consciente de que estava da profundidade da crise contemporânea, afirmou: "estamos no meio da mutação e não sabemos ainda o que irá substituir aquilo que está se desfazendo". Disse ainda, no início de 1993, que "já há alguns anos, é a história contemporânea que parece formar o setor mais vivo" do desenvolvimento historiográfico. Na mesma entrevista, este grande arauto da chamada história das mentalidades desabafou: "não pensem que me coloco distante das coisas que se movem ao meu redor. Ao contrário, o bom historiador deve se achar atento a tudo, não simplesmente ao que agita as condições do seu próprio mètier, mas dos problemas do mundo". E interroga-se adiante: "a sociedade em direção à qual iremos, terá ela o mesmo interesse pela história ... Eu me pergunto ansiosamente, observando o quanto em pouco tempo o nosso ofício se degradou ... Estou persuadido de que uma civilização que, como a nossa, deixa desabar seus organismos educacionais, acha-se gravemente enferma".


Principais obras:
A Europa na Idade Média. São Paulo: Martisn Fontes, 1988.
A história continua. Rio de Janeiro: Jorge Zahar/Editora UFRJ, 1993.
A Idade Média na França, 987-1460: de Hugo Capeto a Joana D’Arc. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.
A sociedade cavaleiresca. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
Adolescence de la chrétienté occidentale, 980-1140. Genebra: Albert Skira, 1967.
As três ordens ou o imaginário no feudalismo. Lisboa: Estampa, 1982.
Diálogos sobre a nova história. Lisboa: Dom Quixote, 1989.
Guelherme Marechal, ou o melhor cavaleiro do mundo. Rio de janeiro: Graal, 1988.
Guerreiros e camponeses: os primórdios do crescimento econômico europeu do século VIII ao século XII. Lisboa: Estampa, 1980.
Histoire de la civilisation française. Paris: Armand Colin, 1958.
Hommes et structures du Moyen Âge (seleção de artigos). Paris: s. n., 1973.
Idade Média, idade dos homens: do amor e outros ensaios. São Paulo: Cia. das Letras, 1990.
O ano mil. Lisboa: Edições 70, 1986.
O cavaleiro, a mulher e o padre. Lisboa: Dom Quixote, s. d.
O domingo de Bouvines. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
O tempo das catedrais: arte e sociedade, 980-1420. Lisboa: Estampa, 1979.
São Bernardo e a arte cisterciense. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
Senhores e camponeses. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
Como organizador:
Histoire de la France rurale. Paris, Seuil, 1975-7. 4v.
Histoire de la France urbaine. Paris: Seuil, 1980-5. 5v.
História da vida privada. (com Philippe Ariés). São Paulo: Companhia das Letras, 1990-2. 5v.
História das mulheres. (com Michelle Perrot). São Paulo: Companhia das Letras, s. d

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